Coringa: O Mundo – Entrevista com Felipe Castilho e Tainan Rocha
O Portal do Nerd entrevistou Felipe Castilho e Tainan Rocha que, em parceria com Mariane Gusmão, são responsáveis por “Cidade dos Loucos, Cemitério dos Vivos”, título que compõem a obra Coringa: O Mundo, uma publicação oficial da DC Comics, numa coletânea de quadrinhos que retrata o personagem em 13 países, lançada no Brasil pela Editora Panini.
Qual o sentimento de vocês, depois de muitos anos de trabalho, em participar de uma coletânea que retrata um dos vilões mais icônicos dos quadrinhos e para uma editora como a DC Comics?
FELIPE CASTILHO: Foi incrível, sonho de moleque realizado! A história é curta, então tive que aproveitar bem o “tempo de palco” concedido, rs. Mas toda hora me pego sorrindo de perceber que fiz algo oficial de um personagem tão icônico.
TAINAN ROCHA: Eu confesso que não esperava fazer algo desse tamanho e muito menos com essa personagem específica! Mas foi uma experiência incrível… me diverti durante o processo e toparia fácil continuar usando o meu traço para histórias de vilões – tem tudo a ver! rsrs
Vocês poderiam compartilhar como foi o processo criativo e o desenvolvimento da história de “Cidade dos Loucos, Cemitério dos Vivos”?
FC: Acho que o primeiro passo foi sentarmos na praia (Tainan mora na Praia Grande, aí fui lá) com um caderninho, respirarmos fundo e poder dizer: pô, é isso. Tá rolando, e queremos fazer algo f0d@. Aí jogamos algumas ideias para o alto e a que caiu melhor no gosto dos dois foi fazer algo envolvendo Colônia de Barbacena. Já era algo que eu tinha lido bastante a respeito, incluindo o livro da Daniela Arbex, mas voltei a focar no assunto junto com o Tainan e juntamos imagens, artigos jornalísticos daqui e de fora do Brasil, e aí fomos filtrando. O elemento final que deu o toque foi quando me lembrei do livro do Lima Barreto, Cemitério dos Vivos, e resolvi trazê-lo na história de uma maneira um pouco livre, quase como um personagem colocando a história do Brasil em cheque. Acabou que usei a referência até no nome da história.
TR: Depois de dez anos de parceria nas HQs, fica muito mais fácil fazer as coisas fluírem de maneira natural né… Além desse processo que o Felipe comentou, na parte de arte (especificamente) foram trabalhadas algumas possibilidades até encontrar o que melhor se encaixava na proposta da história/prazo para produção. E por se tratar do Coringa, no Brasil, deu para explorar legal questões de linguagem gráfica e narrativa!
Como foi retratar o Brasil, especificamente um recorte histórico sobre o Holocausto Brasileiro, e quais as dificuldades em trabalhar o nosso país pela ótica de um psicopata?
FC: A história por si só é difícil de engolir, e tudo fica pior quanto mais se cava para dentro do acontecido. O Coringa chega no Brasil achando que vai tripudiar, até mesmo vendo que o cidadão brasileiro e a galera fã de true crime estão se derretendo por ele, mas ele se depara com uma história que ele não fazia ideia. Acho que mais do que ver a história pela ótica dele, fizemos ele ver a loucura pela nossa ótica, que tem a normalidade caminhando lado a lado com a tragédia e o absurdo desde sempre.
TR: A parte mais dolorosa e indigesta, sem dúvida, foi a de pesquisa. Mas, ao mesmo tempo, foi um combustível, de certa forma, para escrever e desenhar com raiva – oriunda de tantos absurdos. O lance sempre foi focar no fato de que o resultado final desse quadrinho serviria, não apenas como entretenimento, mas também como uma espécie de lembrete ilustrado daquilo que se tenta esconder ou maquiar.
Quais os desafios de deixar o lugar de leitor do universo do Batman ou até mesmo de super-heróis para assumir a responsabilidade de criar e fazer parte dele?
FC: O desafio é se concentrar, porque dá vontade de fazer muita coisa! Para mim é divertido poder “brincar” com tantas personagens icônicas e com um histórico tão gigantesco.
TR: O mais difícil foi não deixar a ansiedade ou a auto sabotagem tomarem conta. Muita coisa já foi feita, são anos e anos de histórias, de traços icônicos… Não esperava inventar a roda, claro, mas também queria conseguir imprimir uma identidade forte.
Para não fechar apenas com conselhos para quem deseja escrever ou ilustrar para a DC Comics um dia e indo além desse recado, o que podemos esperar de novidades com o trabalho de vocês daqui para frente?
FC: Temos uma HQ juntos para o ano que vem que ainda é segredo, mas que será na pegada de Horror Cósmico e psicológico. Então, vai na medida para quem gostar de nossa história em Coringa: O Mundo. Também tenho mais algumas novidades na literatura em breve, incluindo um relançamento importante.
TR: Leiam e consumam outras coisas além de quadrinhos – fará toda a diferença na hora de produzir quadrinhos! Hehe
Em uma iniciativa global que começou com a antologia Batman: O Mundo, autores de todo o planeta apresentam sua visão única do Príncipe Palhaço do Crime, que está prestes a dominar muito mais do que apenas Gotham City. Existe todo um mundo para aterrorizar, e o vilão viajará ao redor do globo, dos Estados Unidos até o Brasil, passando por Argentina, diversos países da Europa e muitos outros locais, fazendo o que sabe de melhor: criando o caos!
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